Neblina baixa
Fui acordado pelo frio. E como não havia mais
cobertor para puxar, o sono ficava comprometido. Levantei, sentei uma leiteira
d’água sobre o fogo. E bocejei um hálito guardado a sete sonhos. Assim que a
água virou café, o galo cantou. De modo que os vizinhos até mudaram de lado na
cama. Mas não se levantaram. A neblina andando no quintal. Os pintos bicando as
acerolas caídas no chão.
Meu café na caneca. Quente feito um cobertor de lã.
Ali na frente, na construção, o trato da empreitada trazia os pedreiros mais
cedo. Baldes de massa içados por cordas e roldanas; tijolos lançados para a
laje; carrinhos de areia; sacos de cimento; água gelada; pá cheia de brita.
Na laje, soerguendo o peso de caibros e telhas, o
homem calculava e suava. E sua quentura esburacava a neblina. Seu trabalho
sonorizava a manhã cantando de galo por obrigação. O lápis atrás da orelha e a
conta sussurrada em números invisíveis.
Quando a mão, revestida pela camisa, alcançou o
rosto a fim de secá-lo, ainda não se via sol, vestido que estava pela névoa. No
entanto, sabiam eles que esse não seria dia de nuvem. A neblina baixa era apenas
o prenuncio de um sol, de um sol que quando chega, racha.
Rafael Alvarenga
Resende, 29 de novembro de 2012
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