quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Neblina baixa


Neblina baixa

Fui acordado pelo frio. E como não havia mais cobertor para puxar, o sono ficava comprometido. Levantei, sentei uma leiteira d’água sobre o fogo. E bocejei um hálito guardado a sete sonhos. Assim que a água virou café, o galo cantou. De modo que os vizinhos até mudaram de lado na cama. Mas não se levantaram. A neblina andando no quintal. Os pintos bicando as acerolas caídas no chão.
Meu café na caneca. Quente feito um cobertor de lã. Ali na frente, na construção, o trato da empreitada trazia os pedreiros mais cedo. Baldes de massa içados por cordas e roldanas; tijolos lançados para a laje; carrinhos de areia; sacos de cimento; água gelada; pá cheia de brita.
Na laje, soerguendo o peso de caibros e telhas, o homem calculava e suava. E sua quentura esburacava a neblina. Seu trabalho sonorizava a manhã cantando de galo por obrigação. O lápis atrás da orelha e a conta sussurrada em números invisíveis.
Quando a mão, revestida pela camisa, alcançou o rosto a fim de secá-lo, ainda não se via sol, vestido que estava pela névoa. No entanto, sabiam eles que esse não seria dia de nuvem. A neblina baixa era apenas o prenuncio de um sol, de um sol que quando chega, racha.

Rafael Alvarenga
Resende, 29 de novembro de 2012

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