terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Moça bonita mergulha


Moça bonita mergulha

Pela areia iam todos. Depois vinham todos. Quanto mais caminhavam mais sedentos do mergulho ficavam. O mar ali, deitado, respirando leve. Do outro lado a placa: Impróprio ao banho.
Não havia quem se arriscasse. Por que temessem menos as bactérias d’água que os olhares reprovadores; as suspiradas cheias de nojo; os comentários baixos, de lábios lentos, que facilmente se podiam ler. Seria como mergulhar no lodo. Tudo bem, um lodo hoje bastante peculiar, pois azul.
A moça bonita, descansando da corrida na areia, colocou-se dentro do biquíni. O que naturalmente chamou muita atenção, por que quanta moça bonita ficara então para fora do biquíni. E mesmo que fingissem desinteresse, ficavam todos a espera do que faria a moça bonita. Mas ela esperou. Ajustou as laterais do traje. Conferiu se a bolsa estava bem trancada.
Em seguida caminhou para a água. Molhou pés e mãos. Refrescou a nuca, os punhos, os rins. Ninguém acreditava. Entretanto era isso sim. A moça bonita num mergulho agudo furou o mar. Dentro d’água mergulhava erguendo a bunda. Nadava solta. Espalhava água. Borbulhava.
Na areia todos com calor, inveja e covardia. Sentiam-se feios demais, ou velhos demais, ou sensíveis demais para mergulhar no mar azul. Mas e a placa?, perguntavam-se.
Moça bonita saiu do mar mais bonita do que entrara.
Já as mães, antes que as crianças pedissem o mergulho, levantaram acampamento gritando que já era hora de almoço. Foram todos. E as crianças choravam o mais alto que podiam.

Rafael Alvarenga
Niterói, 12 de novembro de 2012

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