Moça bonita mergulha
Pela areia iam todos. Depois vinham todos. Quanto
mais caminhavam mais sedentos do mergulho ficavam. O mar ali, deitado,
respirando leve. Do outro lado a placa: Impróprio ao banho.
Não havia quem se arriscasse. Por que temessem
menos as bactérias d’água que os olhares reprovadores; as suspiradas cheias de
nojo; os comentários baixos, de lábios lentos, que facilmente se podiam ler.
Seria como mergulhar no lodo. Tudo bem, um lodo hoje bastante peculiar, pois
azul.
A moça bonita, descansando da corrida na areia,
colocou-se dentro do biquíni. O que naturalmente chamou muita atenção, por que
quanta moça bonita ficara então para fora do biquíni. E mesmo que fingissem
desinteresse, ficavam todos a espera do que faria a moça bonita. Mas ela esperou.
Ajustou as laterais do traje. Conferiu se a bolsa estava bem trancada.
Em seguida caminhou para a água. Molhou pés e mãos.
Refrescou a nuca, os punhos, os rins. Ninguém acreditava. Entretanto era isso
sim. A moça bonita num mergulho agudo furou o mar. Dentro d’água mergulhava
erguendo a bunda. Nadava solta. Espalhava água. Borbulhava.
Na areia todos com calor, inveja e covardia.
Sentiam-se feios demais, ou velhos demais, ou sensíveis demais para mergulhar
no mar azul. Mas e a placa?, perguntavam-se.
Moça bonita saiu do mar mais bonita do que entrara.
Já as mães, antes que as crianças pedissem o
mergulho, levantaram acampamento gritando que já era hora de almoço. Foram
todos. E as crianças choravam o mais alto que podiam.
Rafael Alvarenga
Niterói, 12 de novembro de 2012
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