Jornal velho
Na capa dos jornais que leio registram o número de
outro apartamento. Mas eu sou um homem medroso. Portanto não pensem que lhe assalto
o periódico. Meu vizinho acumula uma pilha e deposita-a na escada, ao lado da
lixeira.
Fico matutando sobre o estereótipo de meu vizinho.
Não chego a um consenso comigo mesmo. Sei quais são as colunas que ele
eventualmente recorta. E desconfio da matéria formidável que teria saído em
algum caderno em alguma data, justamente porque ele não lhe abandonara no lixo.
Em certas ocasiões leio um artigo e percebo como uma
página do jornal está mais amassada que as outras. Nitidamente os maus tratos
ao papel representam maior interesse no assunto tratado. Via de regra é caso
polêmico. Curiosidade magnífica. Aí dá vontade de sair pelo corredor. Bater à
porta de meu vizinho e, cumprimentando-o como a um amigo íntimo, ser convidado
para um drink e um dedo de prosa. No entanto, eu já disse acima que sou um
homem medroso. E aos homens medrosos, às vezes, mal resta escrever estórias
numa tarde quando parece que vai chover.
Por minha vez, com o jornal em mãos, faço alguns
recortes, amasso mais algumas partes, pois até as releio, guardo alguns
cadernos e pronto. Em seguida jogo fora o jornal que só foi meu porque
envelheceu.
Rafael Alvarenga
Niterói, 15 de dezembro de 2012
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