Momento crônica
Esperei todos adormecerem. Então, envolto por
sonhos alheios e além-mundos, dei início à crônica. Porque precisava de
mistério e insegurança; precisava não ter chão sob os pés, nem analgésicos nos
atos musculares.
Saí ao jardim. Matei seis flores. Em seguida lhes
ofereci todo um jarro d’água para beber. E como ficaram bem! Mortas de pé no
meio da mesa. Despossuídas das obscenidades quais lhes garantem pétalas
abertas. Zangões papiloscopistas apenas observavam profissionalmente.
Percebo marimbondos entrando aos casais pela porta
da frente. Vasculham as quinas da sala. Avaliam as condições de minha moradia.
Vejo-os acertando detalhes acerca do posicionamento de sua habitação. Enquanto isso
latejam suas bundas avermelhadas e inchadas. Pululam seus ferrões na direção de
meus dedos. À eles sou insignificante. Assim como são insignificantes minhas
escrituras de posse e outros documentos legítimos lavrados em cartório. Ademais,
alavanca sua prepotência o fato das mulheres, à simples vista dos marimbondos,
saírem afoitas e histéricas a fim de protegerem as crianças. É que em suas
existências sem memória jamais viveram guerras, jamais viveram pestes, jamais
viveram fomes essas nossas mulheres fortes.
No entanto alguém acorda. É agora meio da noite. E
quer um copo d’água. Na cozinha as mangas escorrem um calor doce e podre. Mas
eu, que posso eu fazer se mal consigo dar alguns passos longe da previsão do
corrimão.
Rafael Alvarenga
Cabo Frio, 01 de janeiro de 2013
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