Árvore
Seu corpo é troncudo. E possui sangue verde. Já o peitoral é de
madeira. Inclusive eu vi quando nele tatuaram um coração com duas letras tortas
dentro. Doeu. Mesmo assim seus braços jamais cessaram sua firmeza. Jamais
tombaram esmorecidos.
Quanto aos pés
são pés normais de árvore mesmo. Estranhas são as unhas. Pretas da terra na
qual se fincam.
No tempo da velhice as árvores perdem os cabelos
amarelados; quebradiços e leves.
Seja o tempo que for, vem de todos os galhos
informações de lugares outros. E ela ali. Sempre árvore. Enraizada. Permanente.
Se as árvores pudessem voar onde é que fariam seus ninhos? E seus ovos? Na
terra como ficariam indefesos!
Mas é pelo seu comprido que elas superam qualquer
sensação. Pois seus cabelos correm feito nuvens crespas. E é por isso que as
árvores sobem tão alto. É por isso tanto esforço a fim de levantar mais alto
que telhados e jequitibás um único cacho de folhas que seja.
Na árvore apontam os galhos. Braços em forma de
esperar abraço. Ilusão. Pois o que o outro busca é somente o abraço da sombra.
No dia a árvore dorme. De pé como um cavalo. De
olhos fechados como os humanos. E assim dorme um sono normal, de árvore mesmo.
Rafael Alvarenga
Resende 24 de março de 2013
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