segunda-feira, 8 de abril de 2013

Meu trabalho


Meu trabalho

Meu trabalho não constrói casas. Não pinta paredes. Não limpa banheiros. Não faz bolo de banana. Não lava a louça. Não vasculha as teias de aranha nos cantos altos das paredes. Não varre a casa. E mesmo se varresse não levantaria os tapetes para fazê-lo bem feito. Não entrega cartas. Não hasteia bandeiras. Não arma bombas.
Meu trabalho não troca as lâmpadas que estão queimadas. Não colhe flores do campo para enfeitar a jarra de alça branca sobre a mesa. Não atende ao telefone. Não maqueia defuntos. Não lava roupa. Não dirige automóvel. Não recolhe o lixo. Não dá nenhuma ordem.
Meu trabalho não vende sapatos. Não concerta máquinas enguiçadas. Não instala TV a cabo. Não limpa a acém. Não moe a acém. Não faz abortos. Não lavra escrituras. Não certifica óbitos. Não faz pães e rocamboles. Não planta fruta alguma, verdura alguma, legume algum. Meu trabalho não carrega caixotes. Não desvia fortunas. Não condena.
Meu trabalho não cura doenças. Não planeja pontes e aeroportos. Não ensina nada a ninguém. Não informa sobre o que ocorre na política. Não vende perfumes. Não atira. Não transa. Não borda uma toalha. Não reclama. Não desentope pias ou ralos.
Meu trabalho não é remédio. Não é terapia. Não é necessidade. Não é a ajuda, nem é milagre. Meu trabalho não tem nada de divino, místico ou trágico.
Meu trabalho não é nada disso que você está pensando.

Rafael Alvarenga
Resende, 30 de março de 2013

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