Meu trabalho
Meu trabalho não constrói casas. Não pinta paredes.
Não limpa banheiros. Não faz bolo de banana. Não lava a louça. Não vasculha as
teias de aranha nos cantos altos das paredes. Não varre a casa. E mesmo se
varresse não levantaria os tapetes para fazê-lo bem feito. Não entrega cartas.
Não hasteia bandeiras. Não arma bombas.
Meu trabalho não troca as lâmpadas que estão
queimadas. Não colhe flores do campo para enfeitar a jarra de alça branca sobre
a mesa. Não atende ao telefone. Não maqueia defuntos. Não lava roupa. Não
dirige automóvel. Não recolhe o lixo. Não dá nenhuma ordem.
Meu trabalho não vende sapatos. Não concerta
máquinas enguiçadas. Não instala TV a cabo. Não limpa a acém. Não moe a acém.
Não faz abortos. Não lavra escrituras. Não certifica óbitos. Não faz pães e
rocamboles. Não planta fruta alguma, verdura alguma, legume algum. Meu trabalho
não carrega caixotes. Não desvia fortunas. Não condena.
Meu trabalho não cura doenças. Não planeja pontes e aeroportos. Não ensina nada a ninguém. Não informa sobre o que ocorre na política.
Não vende perfumes. Não atira. Não transa. Não borda uma toalha. Não reclama.
Não desentope pias ou ralos.
Meu trabalho não é remédio. Não é terapia. Não é
necessidade. Não é a ajuda, nem é milagre. Meu trabalho não tem nada de divino,
místico ou trágico.
Meu trabalho não é nada disso que você está
pensando.
Rafael Alvarenga
Resende, 30 de março de 2013
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