Se escrevo
Como pode ser aqui que escrevo? Se mal posso
acender a luz. Se mal há espaço sobre a mesa para uma folha de papel em branco.
Sim, para uma virgem e branca folha de papel.
Como pode ser aqui que escrevo? Se cada letra
traçada solta gritos. Se cada pensamento estala as ferraduras ao cavalgar por
essa cabeça miúda em forma de curral. Se ao olhar para os lados lanço chamas.
Como pode ser aqui que escrevo? Se na sala há uma
cama. Se no quarto há uma mesa. Se o cômodo é único e o espaço é coletivo.
Como pode ser aqui que escrevo? Se mal posso beber
um café a hora desejada. Se o sabor de qualquer torrão vai impregnar almofadas
e pijamas. Se mal posso abrir a porta, convidar a lua e antes de lhe falar
pigarrear para limpar a garganta.
Como pode ser aqui que escrevo? Se mal posso ler
uma poesia em voz alta. Se não posso falar mal de ninguém, pela razão de não
poder falar nada. Ah, se o silêncio me doesse! Estaria agora aos berros a
procura de um analgésico.
Como pode ser aqui que escrevo? Se falo mal essa língua
sem batismo. Se ao meu redor todos roncam. Se meus sonhos só me servem quando
acordo, se escrevo.
Rafael Alvarenga
Resende, 28 de março de 2013
Belo e reflexivo o escrito meu amigo...
ResponderExcluirforte abraço
c@urosa