O poeta e a criança
Na capa do livro puseram uma foto do poeta. E como
é difícil evitá-la. Pois está lá. A mão sob o queixo. Os óculos grossos como a
proteger-lhe de minhas perguntas. E sua poesia é tão simples quanto seu nome,
Carlos.
Eu o trouxe da biblioteca. Descansava desperto em
um dormitório junto de outros poetas de nomes simples, Mário, João, Cecília,
Fernando. Agora o leio para uma criança. É simples. Mas os homens crescidos e
inteligentes dedicam cinquenta páginas a esclarecer o que quer dizer o poeta
quando diz uma estrofe simples.
E a criança não sorri com a rima. Pois a rima não
chega. A criança sorri quando o poeta diz que seu pai montava a cavalo. Sorri
porque vê tudo. E caminha através da estrada da poesia de Carlos, assim como
ela é mesma: sem vírgula, sem ponto e vírgula. Às vezes com algum pontinho aqui
ou ali. O que poderia até parecer uma pedra no meio do caminho. No entanto,
para a criança é como um irmão pequeno dormindo pela tarde. Simples.
Estamos em frente à janela. Precipita-se alguma
chuva. O poeta fica a observá-la. A criança também. O poeta tira a mão de sob o
queixo. Estica o braço. As gotas caem-lhe sobre o dorso da mão lançada para
fora do abrigo.
Não sei se cai poesia. Sei que agora a criança só
ouve a chuva.
Rafael Alvarenga
Resende, 25 de fevereiro de 2013
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