Poesia na noite preta
e velha
Nos deitamos. A noite corria alta
e silenciosa. Ela acordou o livro qual dormia entre nós e pegou a ler. O mundo
todo escuro. E nosso abajur aceso marcando uma espécie de estrela na cabeceira
do nosso universo.
Enquanto ela lia eu fechava os
olhos. E brincava de sonhar. E nos meus sonhos quanta poesia. Quanto esplendor!
Quando terminava de ler eu despertava. Na boca um sabor de fundo de sono. Nos
olhos um arregalo pasmado. E se andasse o tempo um pouco mais devagar eu teria perguntado
que lugar seria esse. Sonhar é como perder o equilíbrio.
A voz dela coava as palavras. E
para o copo dos meus ouvidos chegava uma mensagem com cor e cheiro. Às vezes
com sabor de café preto; ás vezes com barulho de faísca elétrica de bonde
antigo. Isso tudo dormia dentro de páginas finas e claras. Como a água de um
rio, fina e clara. As páginas virando, correndo, descendo. E delas não podiam
escapar as letras. Pois escapar lhes arrancaria as vidas que por mão do poeta
eram todas poesia.
Se eu pudesse contar tudo que
ganhava ouvindo aquela voz me recitando estrofes na noite preta e velha. Não
posso contar. Não posso medir. Por mais cheio de números que fosse o número
final. Porque quando falasse, quando contasse, faltariam palavras para alongar
as pernas da mentira. Faltaria tempo para ouvir mais poesia na noite preta e
velha.
Rafael Alvarenga
Resende 26 de fevereiro de 2013
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