Quando falta coragem
Comprou o jornal. Abriu numa página do meio. Depois
noutra. Dobrou tudo. Pôs debaixo do braço e atravessou a rua. Entrou na
padaria. Mesmo indeciso pediu uma média. Virou o punho e olhou o relógio. 8h. Reparou
na rua no instante em que passava um carro azul. Voltou os olhos para a cesta
de pão. A xícara tilintara sobre o balcão de mármore. A pedra fria. O leite
amenizando o aroma do café. Tão quente o café com leite que não pode beber de
um gole.
Abandonou metade da bebida. A mão no bolso sentiu a
frieza das moedas. Ainda não havia criado coragem. R$ 4.500,00. Lembrou-se do
jornal. Havia esquecido sobre o balcão frio de mármore. Graças a Deus! Voltou
para buscá-lo. Deu alguma atenção às notícias comunicadas pela TV.
Ao sair novamente observou as propagandas de
cigarro. Uma espécie de futurismo colorido. Mas nunca fumara em sua vida. Puxou
o jornal debaixo do braço. O enrolou com as duas mãos. Olhou para a direita.
Para a esquerda. Uma chuva fina caía por todos os lados. E ele ainda sem coragem.
Pensou nos R$ 4.500,00. E quando o vendedor o enxergou,
ainda tinha a vassoura na mão. Mas foi dizendo antes que ele alcançasse o
batente da concessionária: Faço pro Sr. por R$ 4.100,00 e fechamos negócio
hoje!
Rafael Alvarenga
Resende, 13 de março de 2013
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