Cavalo baio
Seu silêncio durou uma idade de dias. O que ocorreu
não logo depois dela ter desaparecido. Pois no dia em que encontrou os lençóis frios ele gritou de desespero. Depois gritou de raiva. Raiva daquele que pudesse tê-la
feito algum mal.
Passou um e outro dia procurando vestígios dela. E nesse
tempo, que duraram muitas horas de vigília, o fio da faca lhe andava na cintura
como um cão de guarda pronto a atacar. Aí veio alguém trazer o comunicado. E
não fosse um parente tão ancião não acreditaria. Pois no recado enraizava-se a
certeza seca de que ela não fora levada a força.
Acontecera tudo em silêncio, até o momento em que o
cavalo galopara. Um baio alto de passadas compridas e relincho lacônico. Ela
fora na sela. Com as mãos amarfanhadas entre os fios da crina clara do animal.
Foi sorrindo. Embora, talvez, com algum medo de cair. E o que lhe amarrava não
eram as cordas de nenhum sisal. Os laços eram de uma substância invisível e
poderosa: a paixão.
Ele ouviu tudo calado. E assim continuou até tomar
alguma decisão. O que mais lhe atrapalhava as ações era ver que tudo estava
ali. Ela não levara nada. E era justamente por sobrar tanta coisa que a dor latejava
cheia.
Naquele tempo veio chuva. Então ele aproveitou para
achar que estava bom.
Só não podia ver um cavalo baio. Bicho traiçoeiro.
Bicho perverso, julgava.
Rafael Alvarenga
Resende, 24 de fevereiro de 2013
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