Segredos d’água
A espuma é o sangue do mar. Mas, por favor, não pensemos em tragédias; e sim em metáforas. É que a onda quando quebra n’água faz espuma. E a maré ao esmurrar a dureza da rocha espuma. O barco quando rasga a derme d’água também abre espuma.
De modo que tal qual o sangue, que quando morre suspende seu vermelho para coagular-se pretamente, a espuma altera seu branco; até deixa rastro. Em todo caso ido certo tempo, a água cicatriza-se e o vento disfarça a marca eriçando a superfície. Depois também há o sol. Címbalo pendular indo e vindo sobre o mar. Derrete marcas, evapora eczemas, funde tudo em um só.
A água é malha de lã para os aquáticos. Nós é que não podemos com ela demasiadamente. Porque nosso sangue quente tem uma quentura vagabunda. Não dura absolutamente nada.
Sei também que a água se reproduz expansivamente. Ora, a água é assexuada. E basta um pedaço d’água ser carregado por um tufo de penas ou pelos e pronto. Fiat água! Qualquer pingo d’água pode facilmente gerar outro novo tanto dela mesma.
E o que não é o espírito da gente senão água? Água em nossas glândulas inchadas, unhas encravadas, músculos estirados. Água na raiz do cabelo; no fundo da alma.
Rafael Alvarenga
Cabo Frio, 13 de outubro de 2012
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