domingo, 25 de novembro de 2012

Fruto público


Fruto público

E parece que foi ontem. Eu passando por aqui. Indo até onde precisava chegar. E era tudo sombra. Uma sombra pesada; de árvore apinhada de frutos. Como eu vinha do almoço, pensava no dia em que poderia sentar-me debaixo de qualquer galho. Apoiar-me sobre o cotovelo e saborear uma fruta tirada do pé. Para a imaginação ganhar sabores de realidade eu nem escovava os dentes. Não se pode sonhar com gosto de fruta tendo a boca ensaboada por creme dental.
Sonhava tanto que passava da esquina na qual devia dobrar meu caminho.
Quantas vezes fiz isso. Esperava o ponto certo da fruta. Então bastaram um e mais outro dia sendo obrigado a fazer outros caminhos e veio o susto. Quando retornei as frutas não estavam mais nos galhos. Nem desmoronadas no chão eu as encontrava. A boca salgada da comida, nesse dia, saboreou uma sede desditosa.
Mais a frente um homem sorria. No chão havia estendido uma fazenda encardida. Sobre ela empilhou unidades de frutas de vez. E, a qualquer um que se acercava, disparava uma promoção. De tantas em tantas compradas, ganhava-se uma.
Era assim. Vendia descaradamente o fruto público. Mais grave ainda, com isso, alterava-lhe completamente o sabor.

Rafael Alvarenga
Resende, 22 de novembro de 2012

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