Fruto público
E parece que foi ontem. Eu passando por aqui. Indo
até onde precisava chegar. E era tudo sombra. Uma sombra pesada; de árvore apinhada
de frutos. Como eu vinha do almoço, pensava no dia em que poderia sentar-me
debaixo de qualquer galho. Apoiar-me sobre o cotovelo e saborear uma fruta
tirada do pé. Para a imaginação ganhar sabores de realidade eu nem escovava os
dentes. Não se pode sonhar com gosto de fruta tendo a boca ensaboada por creme
dental.
Sonhava tanto que passava da esquina na qual devia
dobrar meu caminho.
Quantas vezes fiz isso. Esperava o ponto certo da
fruta. Então bastaram um e mais outro dia sendo obrigado a fazer outros
caminhos e veio o susto. Quando retornei as frutas não estavam mais nos galhos.
Nem desmoronadas no chão eu as encontrava. A boca salgada da comida, nesse dia,
saboreou uma sede desditosa.
Mais a frente um homem sorria. No chão havia
estendido uma fazenda encardida. Sobre ela empilhou unidades de frutas de vez.
E, a qualquer um que se acercava, disparava uma promoção. De tantas em tantas
compradas, ganhava-se uma.
Era assim. Vendia descaradamente o fruto público.
Mais grave ainda, com isso, alterava-lhe completamente o sabor.
Rafael Alvarenga
Resende, 22 de novembro de 2012
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