Margaridas
Estou a dias passando pela rua Paul Harris. Meu
propósito é encontrar o jardineiro do número 215. É que pela grade se podem ver
as margaridas. Moitas delas tentando resguardar a casa dos transeuntes maus
olhados.
Mas o que me provoca ali são as margaridas velhas.
Com uma corola careca. E pétalas grisalhas, escorridas pelo pescoço fino da
haste. O jardineiro lhes conserva a existência. Deixando que cada flor tombe ao
seu tempo. Pois ali há jardineiro. A grama está na linha do corte; as folhas
varridas; e o terreno, de manhã cedinho, estala bebendo água.
Ontem acordei mais cedo. Após o café com leite na
padaria entrei pela Paul Harris. As margaridas balançavam mais que o vento.
Entre elas duas mãos hábeis trabalhavam. Entretanto somente bem próximo pude
ver o jardineiro.
Era uma senhora que um dia fora margarida jovem.
Acordava à hora das plantas. Por isso eu não a encontrava. Fazia e desfazia
tudo antes dos despertadores. Depois passava o dia balançando entre cochilos.
Eu lhe dei bom dia e disse da beleza do jardim. Ela
sorriu. E talvez não houvesse acreditado. Pois era um jardim de margaridas que
ficavam velhas. Era o jardim da velha jardineira Margarida. Mulher forte qual
somente a mão do tempo haveria de podar.
Rafael Alvarenga
Resende 06 de novembro de 2012
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