Manobra de caminhão
Quando eu cheguei havia já multidão. Braços
cruzados. Jornais dobrados sob os sovacos. Mãos alimentando os bolsos. Paravam
todos; e observavam o caminhão em manobra. O sopro aliviado dos freios; a
persistência roncada da máquina. Quantos cavalos! Eu diria quantas mulas, em
virtude do transporte de tão obesa carga.
Os expectadores pedestres opinavam. Alguns
desacreditavam na manobra. Com os beiços comprimidos asseguravam não ser
possível chegar ao galpão. Outros viam soluções num simples, porém preciso,
giro de volante.
No meio da rua o gigante de pés inchados, redondos,
bloqueava o trânsito. Mas ninguém buzinava. Davam palpites. Apontando com as
mãos o que deveria ser feito.
O caminhoneiro no alto palanque da cabine
manobrava. Apareceu um funcionário do depósito. Chegou à janela e falou
qualquer coisa. Em resposta o motorista acendeu um cigarro. Em seguida, como se
domasse corcel selvagem, impôs movimentos geométricos ao gigante de aço. O
qual, domesticado, ia ajeitando o traseiro lentamente ao fundo do depósito.
Alguns curiosos mudavam de lado. De modo a não
perder um centímetro sequer de marcha ré. Outros, que acreditavam impossível
por no galpão tal dimensão de caminhão, diziam que da forma como sugeriam seria
muito mais fácil. No entanto, a maioria mesmo, saiu bem antes que se iniciasse
a descarga. Afinal, não eram poucas as toneladas nem muitos os carregadores.
Rafael Alvarenga
Resende, 01 de novembro de 2012
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