Comida nossa de cada
dia
— Nesse mundo é cada cultura. Tem gente que não come feijão!
Entende isso? Como pode a pessoa viver bem, saudável, sem comer feijão?
— Pior não é isso, meu amigo. Pior são aqueles que comem
cada coisa de dar arrepio!
— Isso é verdade. – Leva o copo a boca e o esvazia.
— Escargot! É um Caracol. Caracol nada. Comem mesmo é a
lesma.
— Cultura bizarra. Everaldo traz mais uma. – Grita para o
garçom e aponta para a garrafa.
— E aqueles caras lá na China ou Índia, não sei direito, que
comem grilo?
— Esses são demais, não é? Grilo é demais.
O garçom chega com a cerveja. Um deles pergunta:
— Everaldo tem o que de tira gosto hoje?
— Espera aí que vou dar uma conferida. É que tá saindo umas
coisas agora.
— Tá ótimo. - Responde e enche os copos.
— Sei que no oriente eles comem até cachorro.
— Cachorro é demais, não é? – Balança a cabeça e bebe um
grande gole de cerveja.
— Impossível. Só lá mesmo.
Volta o garçom e apresenta o cardápio:
— Olha, tem tripa de porco frita, miúdos de frango: rim,
sangue e moela, no caso é porção; croquete de camarão saiu agora. Tem também
dobradinha e mocotó. Mais tarde feijoada completa.
Um olha para o outro e pergunta:
— E aí?
— Rapaz, adoro tripa de porco. Mas vou te dizer que o
croquete daqui é supimpa!
— Então vamos fazer o seguinte: Everaldo dá pra trazer meia
porção de cada?
Rapidamente o garçom volta com as duas meias porções. Um
deles confessa:
— Esse croquete é bom mesmo! – Enche os copos novamente.
Chama o garçom e pergunta:
— Everaldo fala a verdade: Qual é o segredo aqui? – Aponta
para os bolinhos. O garçom responde sem rodeio:
— Eles batem a cabeça do camarão. Aí sai um caldo. Depois
mistura na massa.
Everaldo vai atender outros clientes. Os dois pedem mais
cerveja e continuam:
— Sei, meu amigo, que nesse mundo tem gente que come até
formiga.
— Francamente! Formiga não dá, não é? Formiga não dá mesmo!
– Bebe mais um gole de cerveja.
Rafael Alvarenga
Cabo Frio, 14 de junho
de 2012