Crônica de mercado
Na cesta de pão não eram todos iguais. E como há
gente de todo tipo e gosto há também pão para todo tipo e gosto. Brancos e
borrachudos, tostados e crocantes.
Minha lista de compras de tão nanica cabia na
memória. Faltava couve e inhame. E quanto ao inhame uma velha feirante me havia
instruído a escolhê-los. Por fora são todos bem semelhantes, mas por dentro
cada um é um, dizia ela falando para além de raízes.
Toda gente escolhia legumes e verduras buscando
neles as características que lhes apetecessem. Afirmando, portanto, cada qual o
seu cada um. Cada freguês com o seu paladar.
Eram únicos mesmo. Eu podia ver ao escolherem a
couve. Cada careta; cada reprovação; cada afirmação de qualidade. Cada uma de
um modo inteiramente sem par.
Era isso? Somos tão isolados assim uns dos outros?
Claro que não. Pelos auto falantes do mercado soava uma música conhecida entre
todos nós. Com versos que nos convocavam a amar as pessoas como se não houvesse
amanhã. E todos balbuciavam a canção, intervalando estrofes, com perguntas
sobre preço e peso.
E cantavam todos. Formando um coral que jamais
ensaiara junto. Se alguém não cantasse perceberia essa semelhança emocionante
entre todos nós: gotas d’água, grãos de areia que isolados são insignificantes,
mas juntos formam mares e terras cantadas.
Rafael Alvarenga
Niterói, 03 de dezembro 2012
Lindo.
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