quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Crônica de mercado


Crônica de mercado

Na cesta de pão não eram todos iguais. E como há gente de todo tipo e gosto há também pão para todo tipo e gosto. Brancos e borrachudos, tostados e crocantes.
Minha lista de compras de tão nanica cabia na memória. Faltava couve e inhame. E quanto ao inhame uma velha feirante me havia instruído a escolhê-los. Por fora são todos bem semelhantes, mas por dentro cada um é um, dizia ela falando para além de raízes.
Toda gente escolhia legumes e verduras buscando neles as características que lhes apetecessem. Afirmando, portanto, cada qual o seu cada um. Cada freguês com o seu paladar.
Eram únicos mesmo. Eu podia ver ao escolherem a couve. Cada careta; cada reprovação; cada afirmação de qualidade. Cada uma de um modo inteiramente sem par.
Era isso? Somos tão isolados assim uns dos outros? Claro que não. Pelos auto falantes do mercado soava uma música conhecida entre todos nós. Com versos que nos convocavam a amar as pessoas como se não houvesse amanhã. E todos balbuciavam a canção, intervalando estrofes, com perguntas sobre preço e peso.
E cantavam todos. Formando um coral que jamais ensaiara junto. Se alguém não cantasse perceberia essa semelhança emocionante entre todos nós: gotas d’água, grãos de areia que isolados são insignificantes, mas juntos formam mares e terras cantadas.

Rafael Alvarenga
Niterói, 03 de dezembro 2012  

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