quinta-feira, 1 de maio de 2014

Uma mãe Outra filha Um pai

Uma mãe Outra filha e Um pai

Uma esfrega o chão
Outra baderna as panelas sob a pia
Uma diz não precisar de rodo agora
Outra não se satisfaz
Uma enche balde d’água
Outra fica no meio do caminho
Uma explica que o lixo não brinca
Outra pede colo
Uma traz os tapetes do banheiro
Outra arrasta um banco pelo quarto
Uma fecha uma porta
Outra abre uma boca em choro
Uma pede que não se fique triste
Outra vai ao chão em pirraça
Uma oferece beijo
Outra quer mais, muito mais
Uma oferece companhia na brincadeira
Outra deseja cumplicidade na bagunça
Uma põe fralda no urso de pelúcia
Outra estranha
Uma explica
Outra soletra
Uma acha graça
Outra se deliga
Uma vai atrás
Outra quer novidade, muita novidade
Uma fala da louça
Outra pede papa
Uma explica que vai prender o cabelo
Outra olha, mas não esquece o que quer
Uma confere o calendário
Outra quer tudo hoje
Uma conversa
Outra se cala
Uma aproveita e se cala também
Outra remexe o que já está remexido
Uma não dá bola
Outra fala seu dialeto de Ô, Ê, Mi, PA, CÔ, CA
Uma pensa: amanhã é sexta-feira: banco, oficina, cartório...
Outra espirra
Uma acode, lenço em punho
Outra espalha brinquedos
Uma lembra-se de música
Outra leva o dedo ao botão do rádio
Uma escolhe a música
Outra sai correndo
Um olha pelo corredor
Outra lhe pede colo
Um sabe: é o ponto final do poema.

Rafael Alvarenga

Resende, 01 de maio de 2014

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