Um cofre
Adquiri um cofre para guardar meus segredos. Um
cofre antigo. Negociado junto a um antiquário. Disse-me o mercador, que o artefato
pertencera a um extraordinário soberano. Entretanto se desculpara pela
precariedade de seus conhecimentos históricos. Pois não sabia se era um soberano
do Curdistão ou da Kashemira. Sabia sim sê-lo um rei já defunto.
É um cofre muito pesado. Além do que é também ataviado
com finas esculturas de ramos sem flores. No entanto, como o objeto não me
interessava em motivo de ornamento, fiz questão de conferir sua fechadura.
O mercador, mesmo familiarizado com estranhezas,
não me entendeu. Todavia frisou mais de uma vez que o cofre ainda preservava
sua qualidade de guardar com segurança. Percebendo o tamanho de meu interesse nem
apontou para os outros objetos. Conquanto fossem notados castiçais, bicicletas,
chaleiras, telhas, lunetas, brasões e anéis.
No dia subsequente me trouxeram o cofre. Alojei-o
em meu quarto. Separei meus segredos. Não eram muitos. Mas precisavam de espaço.
Com cuidado pus todos eles no fundo escuro e gelado do metal.
Agora tudo que eu levava comigo podia ser contado.
E eu ia por sob chuvas e trovoadas. Atravessava becos escuros. Regiões mal
faladas não eram suficientes para me fazer dar meia volta. Meus segredos
estavam todos guardados com segurança. De mim nada de verdadeira importância
poderia ser surrupiado. E minha vida agora pareceria sempre limpa. Como as
vidas que andam fingindo compostura pelas calçadas.
Rafael Alvarenga
Resende, 18 de maio de 2013
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