domingo, 26 de maio de 2013

sobrevivência


Sobrevivência

Aqui a luta pela sobrevivência não distingue inverno de primavera. Se a chuva torna difícil nosso dia, um sol escaldante também desidrata nossa força. Que ironia! Estamos distante do Ártico. Nessa zona verde e tropical os desertos não caminham com seus enormes pés achatados de areia.

Mas a luta por comida e abrigo ainda assim é selvagem. Alguns de nós mal conseguem caçar. Ficam ao longe. Observando através de vidros, refeições suntuosas. Aguardam a carcaça.

Há quem iberne. E também quem proteja ferozmente seus frágeis e mimados filhotes que só fazem comer e depender. Outros são presas. Milhões delas. Se aqui fosse a natureza. Mas não é. Aqui a morte de um não é alimento para a continuação da vida em geral. Aqui a morte de um não é absolutamente nada de significante.

Aqui é mais frio que o Ártico. Pois não há tundra, muito menos a beleza perigosa de um tigre branco. Aqui também não é deserto. Pois não há o rigozijo estonteante de encontrar Oasis. Muito menos passam por sobre dunas vivas caravanas misteriosas. Aqui é somente verde e tropical. Nosso inimigo nos dá a mão em cumprimento. E diz que estamos juntos. Em seguida vai embora.

Cabelo postiço; perna manca; olho vesgo; ofegante e horroroso. Predadores sem beleza. Sem qualidade. Refugiados entre os trópicos.

 

Rafael Alvarenga

Resende, 22 de maio de 2013

 

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