Frio sem luz
Nessa noite invernal as estrelas tremem de frio.
Não há nuvem que lhes cubra qualquer das cinco pontas. Esse tempo põe mais medo
nas pessoas que suspeita de ladrão. Dentro de casa, olhamos pela vidraça. Não
há quem roube as roupas no meu varal. Nem quem veja o céu salpicado por essa
poeira brilhosa.
É que não tem energia elétrica agora. E como ela
nos vicia, essa energia. Pois o mundo todo fica até em silêncio. As pessoas
mais corajosas, acanhadas, sussurram suposições. Alguns buscam até dormir.
Outros se amuam nos cantos e se lembram de algum desleixo.
Agora é assim. Mas amanhã será dia novamente. E a
vida, se me perguntarem, direi que é esse sempre repetir-se.
Hoje é que a noite há de ser referência. Num dia
vindouro, quando a lembrança estender os braços a algum pedaço de coisa, agarrar-se-á
a essa noite quando não havia luz nas lâmpadas.
Também é mais frio quando não tem luz. Porque ele,
à vontade, caminha sobre nós. Roendo ossos e pelancas. Abraçando mãos e pés.
Fluindo pelas vigas até os alicerces de nossas camas. Tudo na penumbra. Em
total silêncio. Somos todos presas fáceis.
Ninguém está livre desse frio. Muito menos em uma
noite sem energia elétrica.
Rafael Alvarenga
Resende, 13 de maio de2013
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