Louco por ela
Chega essa hora eu me arranjo todo. Invento pose. Marcho a
mão pelos cabelos como se os fosse pentear. Bebo alguma coisa. Encaixo a roupa.
Ela deve chegar por agora. Fico pensando. Não quero me apresentar de qualquer feitio.
Muito menos parecer desleixado ou acabrunhado.
Fico preocupado. E os motivos são diversos. Ela não tem
personalidade exclusiva. Seu comportamento varia. Por isso não sei como ela
chegará hoje. Ontem mesmo me surpreendeu deveras toda a estória que me veio
contar. É que andando por aí ela vê cada coisa.
Nosso namoro dura já muito tempo. E sempre é isso.
Apronto-me para esperá-la. As mãos ávidas por tocá-la. Os ouvidos arreganhados
para ouvi-la narrar. Houve dias em que não veio. E como isso me incomodou. No
início eu bebia. Mas agora, por algo que suspeito ser dignidade, finjo não me
ter doído nada. Afinal ela também finge. E age como se ontem tivesse me
visitado. Normalmente.
Se eu tivesse mais o que fazer não seria assim tão
dependente dela. Contudo não há outra ocupação a me agradar tanto.
Às vezes nos encontramos em lugares proibidos. Ou mesmo em
horas as mais inadequadas. No entanto dou sempre um jeito. E confesso que o
temor de sermos apanhados juntos me excita. Sobre isso ela nada diz. Continua
agindo com rebeldia e beleza.
O nome dela é Crônica. O meu eu esqueço. Ou mesmo não
importa. Sou é louco por ela.
Rafael Alvarenga
Resende, 02 de junho de
2013
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