Sobrevivência
Aqui a luta pela sobrevivência não distingue
inverno de primavera. Se a chuva torna difícil nosso dia, um sol escaldante
também desidrata nossa força. Que ironia! Estamos distante do Ártico. Nessa
zona verde e tropical os desertos não caminham com seus enormes pés achatados
de areia.
Mas a luta por comida e abrigo ainda assim é
selvagem. Alguns de nós mal conseguem caçar. Ficam ao longe. Observando através
de vidros, refeições suntuosas. Aguardam a carcaça.
Há quem iberne. E também quem proteja ferozmente
seus frágeis e mimados filhotes que só fazem comer e depender. Outros são
presas. Milhões delas. Se aqui fosse a natureza. Mas não é. Aqui a morte de um
não é alimento para a continuação da vida em geral. Aqui a morte de um não é
absolutamente nada de significante.
Aqui é mais frio que o Ártico. Pois não há tundra,
muito menos a beleza perigosa de um tigre branco. Aqui também não é deserto.
Pois não há o rigozijo estonteante de encontrar Oasis. Muito menos passam por
sobre dunas vivas caravanas misteriosas. Aqui é somente verde e tropical. Nosso
inimigo nos dá a mão em cumprimento. E diz que estamos juntos. Em seguida vai
embora.
Cabelo postiço; perna manca; olho vesgo; ofegante e
horroroso. Predadores sem beleza. Sem qualidade. Refugiados entre os trópicos.
Rafael Alvarenga
Resende, 22 de maio de 2013