Com medo
O escuro da noite não tinha sequer uma estrela. Mas
Ele sabia seu rumo. Caminhava firme. Contudo o vento, repentino e abusado, fazia
estalar o capim seco. Ele virava o rosto de súbito na direção do ruído. Pois a
mente é mais rápida que qualquer movimento, e já havia ilustrado os passos
sorrateiros de quem se esquivava pela sebe.
Olhou para o outro da rua. A árvore podada tinha
galhos ascendendo em ziguezague de bêbado em direção à folhagem parca. Mais uma
vez a imaginação. Punha nos galhos a figura de um homem bem arrumado. Porém,
talvez descalço. Ele tentava apertar o passo, mas isso era ainda mais perigoso.
Na medida em que cria se proteger apenas olhando para todos os lados, tropeçava
nas dobras das próprias pernas.
O Medo se materializava em arrepios pela pele toda.
Mais alguns metros alcançou a luz dos primeiros postes. A rua deserta e seca empoeirava
a respiração bufante. O coração corria ainda que sem pernas. E a sombra que o
acompanhava era inteiramente indesejada. Porque, quando entre um e outro poste
de luz, ela se dividia; jogando-o para trás e para frente, como se ele caísse
em duas bandas cortadas sem detalhes. Afiada imaginação!
Havia pedras pelo chão. Iniciou a pegá-las. Encheu a
mão delas. Atirou uma para dentro do mato. Outra para frente na estrada. Olhou para
trás mais vez. Estava chegando a casa. A imaginação bocejava.
Diminuiu o passo e quase
sossegou não fossem os olhos de um gato tremeluzirem acessos debaixo da copa curva
de um arbusto entortado. O medo se alimenta de qualquer coisa!
Rafael Alvarenga
Itatiaia, 10 de agosto
de 2014
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