domingo, 10 de agosto de 2014

Com medo

Com medo

O escuro da noite não tinha sequer uma estrela. Mas Ele sabia seu rumo. Caminhava firme. Contudo o vento, repentino e abusado, fazia estalar o capim seco. Ele virava o rosto de súbito na direção do ruído. Pois a mente é mais rápida que qualquer movimento, e já havia ilustrado os passos sorrateiros de quem se esquivava pela sebe.
Olhou para o outro da rua. A árvore podada tinha galhos ascendendo em ziguezague de bêbado em direção à folhagem parca. Mais uma vez a imaginação. Punha nos galhos a figura de um homem bem arrumado. Porém, talvez descalço. Ele tentava apertar o passo, mas isso era ainda mais perigoso. Na medida em que cria se proteger apenas olhando para todos os lados, tropeçava nas dobras das próprias pernas.
O Medo se materializava em arrepios pela pele toda. Mais alguns metros alcançou a luz dos primeiros postes. A rua deserta e seca empoeirava a respiração bufante. O coração corria ainda que sem pernas. E a sombra que o acompanhava era inteiramente indesejada. Porque, quando entre um e outro poste de luz, ela se dividia; jogando-o para trás e para frente, como se ele caísse em duas bandas cortadas sem detalhes. Afiada imaginação!
Havia pedras pelo chão. Iniciou a pegá-las. Encheu a mão delas. Atirou uma para dentro do mato. Outra para frente na estrada. Olhou para trás mais vez. Estava chegando a casa. A imaginação bocejava.
Diminuiu o passo e quase sossegou não fossem os olhos de um gato tremeluzirem acessos debaixo da copa curva de um arbusto entortado. O medo se alimenta de qualquer coisa!

Rafael Alvarenga

Itatiaia, 10 de agosto de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário