Objeto antigo
Informaram-me que não fabricam mais o que preciso.
Mas disseram haver modelos novos. Mais modernos, foi o termo usado.
Instantaneamente, minha expressão estampou as cores cinzentas da decepção.
Também pode encomendar um modelo novo, inteiramente
exclusivo, continuou o vendedor. E como eu mantivesse o silêncio, talvez ele
julgasse que eu não houvesse ainda entendido, e, portanto explicou mais uma
vez: Um modelo que somente o senhor terá. Não haverá outro por aí!
Com muita seriedade eu debati, afirmando apenas
querer aquele modelo de sempre. Ou alguém que me concertasse o antigo. Ao que
ele se limitou a dizer ser impossível o que eu queria, pois não fabricam mais o
modelo antigo.
É desesperador! Uma coisa é escolher mudar de
vício. Outra, bem diferente, é saber que o objeto ao qual se viciou,
prazerosamente, não é mais fabricado.
Passei meses procurando técnicos capazes de reparar
o aparelho. Quando os encontrava não tinham a peça. Em busca da qual
enlouqueci! Vasculhei antiquários, mas é claro que não a encontraria por lá,
fui a feiras dessas de calçada, visitei ferros-velhos e colecionadores, porém
apenas comecei a desistir quando já estava mapeando os lixões da cidade.
E o vendedor crê que eu não saiba o que seja
Exclusivo! Exclusivo são minhas fitas cassete, e meu toca fita que não mais
funciona! E agora eles pensam que exclusivo é ser amarelo.
Rafael Alvarenga
Resende, 01 de setembro de 2013
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