Capítulo I
Esse café com leite adoçado ao sabor da rapadura é
o que me corta o sono feito um machado afiado. Um gole. Outro golpe. Saio de
sob a friagem do telhado e lá fora há um sol ainda de olhos fechados. As
plantas crescem dentro de um verde que só é cor porque tem forma e limites.
Das bananeiras pendem os cachos como dentes
múltiplos. Dúzias de frutas amarelando a manhã do sabiá. Nascem bananas o ano
inteiro. Assim como nasce gente o ano inteiro. Mas nada parecidas as gentes e
as bananas.
O rapaz da rua de cima comprou uma motocicleta.
Toda manhã ouço o ronco da máquina, sinto o cheiro da baforada de seu motor a
gasolina. Equilibrado vai o rapaz. Trabalha na companhia de energia elétrica.
Faz a aferição em todo bairro. Faz sua própria aferição. Entrega sua própria
conta. Paga sua própria conta. Toda tarde eu sei que ele pensa nisso depois que
recosta a motocicleta no descanso dentro da garagem.
Enrolado sobre si, o cachorro forma um anel com o
corpo. O pelo grosso sustentando todo peso do frio.
Como um caqui maduro. Depois tomo da enxada e
devolvo aos canteiros a terra que a chuva aliciou para o quintal. Um
saíra-sete-cores vem saber se estão frescas as frutas que pendurei no bambu.
No verão o calor marcará minhas mãos ao colher
goiabas. No entanto, será à sombra dessas árvores crescentes que tirarei o
chapéu para secar o suor e sentir a satisfação da brisa.
Rafael Alvarenga
Resende, 27 de setembro de 2013
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