Quando a árvore virou
notícia
Aqui estamos na época dos dentes de leão. Por
qualquer margem de rio ou terreno baldio que se passe hastes finas empinam
círculos felpudos.
Pelas manhãs as maritacas gritam para esquentar. E
comem as sementes de uma árvore magra de folhas. É um tronco alto e atrevido no
qual a morte lhe vai ascendendo e caceteando. Sobra vida somente nas sementes.
Mas as maritacas engolem tudo. Seus bicos tortos, suas garras monstruosamente
curvas riscando os galhos; sua cor verde, humilhando a pobre árvore seca,
falecida, sem uma migalha de folha sequer.
Eu não sei o nome dessa árvore. Contudo nas manhãs
quando lhe passeio sobre o corpo descarnado, tão estéril que incapaz de
qualquer nuança, eu lhe atribuo nomes. Tento sorrir e distraí-la, como fazem os
visitantes de lugares cheios de doentes.
Porém eu também não posso interromper minha
caminhada e prostrar-me ali conversando com uma árvore prestes a acabar.
As maritacas são insaciáveis. Comem todas as
sementes enquanto reclamam, creio, da árvore que não mais as produzirá.
Envergonhada, raquítica, torcida, velha. Qualquer hora ela tombará. Atravessada
no asfalto interromperá o transito. Aparecerão guardas, trarão motosserras,
curiosos pararão para olhar, as rádios noticiarão e durante o jantar alguém
comentará praguejando a árvore que o atrasou a volta para casa onde então comerá
o jantar requentado.
É o fim da árvore cujas sementes as maritacas aos
gritos despejaram longe dali. Não sabem as maritacas, porque não interessa nada
saber, porém plantaram foi um começo. Que tomara, não seja tão noticiado como
esse.
Rafael Alvarenga
Resende, 25 de agosto de 2013
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