O trabalho e a poesia
Quanta coisa acontece na cor das flores, na altura
das árvores, nos olhos das pessoas, no escorrer do rio. Quanta coisa não vejo
mais. O trabalho enfadonho. Preocupado com a tarefa nem te escuto sabiá.
No mundo quanta construção! Belezas a ultrapassar
apatias. E a poesia, já cantaram isso, a poesia a gente não vive. Impressiona
tamanha impunidade: A beleza presa, e a feiura das tarefas de nossos honorários
à solta. Mesmo todos sabendo das delinquências que cometeram.
Quem mais trabalha na burocracia, no dinheiro, nas
caixas lentamente sufocantes, não tem tempo para apreciar. E Thoreau contando
que às vezes permanecia um dia inteiro sentado à soleira de sua cabana
mergulhado no som das flores na cor dos pássaros.
Nossa cabana também vamos construindo longe daqui.
Lá é mais frio, há menos vizinhos e, portanto, não nos fará bem estar aqui
trabalhando e enriquecendo todos os dias. Viremos de vez em quando. Assim como
o dinheiro virá também de vez em quando.
Ficaremos lá a maior parte do ano semeando o tempo
no qual crescerão as hortaliças. Seremos dos bichos que virão nos pedir comida.
E não incomodaremos as pedras dorminhocas e velhas.
Convites apenas aceitaremos se pudermos ir usando
as pernas. Não tenho gasolina e água beberemos do rio mesmo. Já o pão
trocaremos. E a nossa alegria inventaremos, pois garanto, teremos tempo para
isso.
Rafael Alvarenga
Resende, 05 de setembro de 2013
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