quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O trabalho e a poesia

O trabalho e a poesia

Quanta coisa acontece na cor das flores, na altura das árvores, nos olhos das pessoas, no escorrer do rio. Quanta coisa não vejo mais. O trabalho enfadonho. Preocupado com a tarefa nem te escuto sabiá.
No mundo quanta construção! Belezas a ultrapassar apatias. E a poesia, já cantaram isso, a poesia a gente não vive. Impressiona tamanha impunidade: A beleza presa, e a feiura das tarefas de nossos honorários à solta. Mesmo todos sabendo das delinquências que cometeram.
Quem mais trabalha na burocracia, no dinheiro, nas caixas lentamente sufocantes, não tem tempo para apreciar. E Thoreau contando que às vezes permanecia um dia inteiro sentado à soleira de sua cabana mergulhado no som das flores na cor dos pássaros.
Nossa cabana também vamos construindo longe daqui. Lá é mais frio, há menos vizinhos e, portanto, não nos fará bem estar aqui trabalhando e enriquecendo todos os dias. Viremos de vez em quando. Assim como o dinheiro virá também de vez em quando.
Ficaremos lá a maior parte do ano semeando o tempo no qual crescerão as hortaliças. Seremos dos bichos que virão nos pedir comida. E não incomodaremos as pedras dorminhocas e velhas.
Convites apenas aceitaremos se pudermos ir usando as pernas. Não tenho gasolina e água beberemos do rio mesmo. Já o pão trocaremos. E a nossa alegria inventaremos, pois garanto, teremos tempo para isso.

Rafael Alvarenga
Resende, 05 de setembro de 2013

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