Uma crônica para
Milton
Esses homens Mineiros talvez nunca tenham entrado em minas.
Mas como pode seu canto revelar tantas pepitas. São mineiros garimpando o diamante
da poesia na indelével pressão rochosa da vida. Sua voz, sua encanto, vem
andando descalça lá das Minas Gerais.
E sua voz não é apenas de garganta; é voz pesada de corpo
todo. Materializando seu nome, Milton. E sua poesia feita em melodia, que os
lábios são capazes de levar num assobio até a mais internacional esquina, cabe
na maior das coisas.
Diz-me ele de uma sede morta em bica; de um cansaço desencarnado
em rede balançando. De um coração que não deve precisar de coragem para bater.
Apoiado em seu violão cumprimenta os amigos. Talvez alguns
fossem mineiros. Mas tantos outros são Mineiros. E do alforje de seus
instrumentos derramam outros diamantes. Lapidadas as canções brilham em tantos
lados quanto forem ouvidas. Abrem caminhos como picaretas fortes. Contudo
somente podem ser tocadas por cordas e teclas e sopros e sentimentos.
Para unir mar e céu, Milton canta estrelas. Para unir o
vestido e o girassol canta a cor. Para unir a estrada e o encontro canta o pó
das sandálias velhas. Minas é tão grande. Somente uma canção para fazê-la caber
em um pedacinho simples de emoção.
Canções preciosas. Canções em forma de caminhos: prontas
para levar.
Rafael Alvarenga
Resende, 03 de julho de
2013
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