domingo, 9 de junho de 2013

Minha tarde

Minha tarde

No céu desta tarde as cores estão todas apagadas. E as árvores esqueléticas reclamam dessa terra pobre e arenosa. Há uma previsão de chuva. Por isso passamos o dia amuados atrás das vidraças. Aguardamos o amanhã. Porque acreditamos que depois de toda noite vira um dia.
Minha roupa está secando no varal. E na barriga de alguma amiga cresce o futuro. Mas parece que o tempo não está passando. Hoje não há vento. As folhas das árvores, os cabelos compridos, as bandeiras, a fumaça. Estão todos imóveis.
Mas os brinquedos de minha filha permanecem de olhos abertos. Todos eles tem olhos. E como se alastram por todas as esquinas da casa, me vigiam. Suspeitam das palavras escritas em silêncio.
Esses brinquedos são a única coisa colorida nessa tarde onde todos dormem. Porque é também feriado. E se não há trabalho, há passeio ou moleza.
Aqui meus vizinhos não cozinham. Nunca há um aroma apetitoso descendo pelo vão das pilastras. Chegam todos de barriga cheia.
Em minha comida as cores estão apagadas. Os potes dos temperos perderam as identificações, mas minhas mãos estão sempre limpas. E sempre mesmas.
Em minha tarde há apenas a pobreza das palavras. Essas formas rasas onde jamais caberá aquilo tudo que o fermento de nossos sentimentos faz crescer dia a dia.

Rafael Alvarenga

Resende 30 de maio de 2013

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