Minha tarde
No céu desta tarde as cores estão todas apagadas. E
as árvores esqueléticas reclamam dessa terra pobre e arenosa. Há uma previsão
de chuva. Por isso passamos o dia amuados atrás das vidraças. Aguardamos o
amanhã. Porque acreditamos que depois de toda noite vira um dia.
Minha roupa está secando no varal. E na barriga de
alguma amiga cresce o futuro. Mas parece que o tempo não está passando. Hoje
não há vento. As folhas das árvores, os cabelos compridos, as bandeiras, a
fumaça. Estão todos imóveis.
Mas os brinquedos de minha filha permanecem de
olhos abertos. Todos eles tem olhos. E como se alastram por todas as esquinas
da casa, me vigiam. Suspeitam das palavras escritas em silêncio.
Esses brinquedos são a única coisa colorida nessa
tarde onde todos dormem. Porque é também feriado. E se não há trabalho, há
passeio ou moleza.
Aqui meus vizinhos não cozinham. Nunca há um aroma
apetitoso descendo pelo vão das pilastras. Chegam todos de barriga cheia.
Em minha comida as cores estão apagadas. Os potes
dos temperos perderam as identificações, mas minhas mãos estão sempre limpas. E
sempre mesmas.
Em minha tarde há apenas a pobreza das palavras.
Essas formas rasas onde jamais caberá aquilo tudo que o fermento de nossos
sentimentos faz crescer dia a dia.
Rafael Alvarenga
Resende 30 de maio de 2013
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