A um trecho do caminho os jamelões desabados
mancharam as solas de meus calçados. A partir dali, de dois em dois, segui
carimbando todo o papel de terra.
Mais a frente um sabiá. Peito laranja e bojudo. Armado de energia e bico afiado. Em pequenos sobressaltos, movia-se sobre a folhagem. Bailava seu ritual xamânico. Guardava e aguardava algum milagre milenar. Apressei o passo. As impurezas do meu nervosismo delatavam-me. Quanta coisa não me pertencia. Mas eram justamente essas que eu arrastava amarradas a meus calcanhares como bolas de ferro. O que nos pertence não necessita ser carregado dentro de um reboque de posses. Não precisa ser carregado. Já é nosso. Pode ficar onde melhor lhe guardam o tempo e o espaço.
Mais a frente um sabiá. Peito laranja e bojudo. Armado de energia e bico afiado. Em pequenos sobressaltos, movia-se sobre a folhagem. Bailava seu ritual xamânico. Guardava e aguardava algum milagre milenar. Apressei o passo. As impurezas do meu nervosismo delatavam-me. Quanta coisa não me pertencia. Mas eram justamente essas que eu arrastava amarradas a meus calcanhares como bolas de ferro. O que nos pertence não necessita ser carregado dentro de um reboque de posses. Não precisa ser carregado. Já é nosso. Pode ficar onde melhor lhe guardam o tempo e o espaço.
Fazia semanas inteiras sem lua. Semanas
completas com noites tão somente negras. Sem que nosso ânimo minguasse. Ou que
nossa biografia se enchesse de algum alento. Parábolas dessas nuvens que não
lavavam os jamelões perecidos. Que não me faziam sentar dentro de casa.
Resignado com o tempo, disposto a crescer sobre o papel como um sol rachando-o
com letras.
A outro trecho do caminho a tarde já
caiu. E agora chora em virtude dos joelhos arranhados. A um trecho atrás a
noite fechou os olhos; pois não é através deles que vê.
Rafael Alvarenga
Resende, 23 de janeiro de 2013
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