Casa da noite
Na ladeira curta uma casa gorda. De olhos quadrados
e cômodos vazios. De telhados negros porque imundos pelo tempo. Na maçaneta o
azinhavre esverdeando as digitais de dedos mortos. No interior da casa um teto
aéreo. Mais culminante que o céu estendido até o alto da ladeira.
A noite morando dentro da casa. No fim das tardes estava
ela espiando a rua por debaixo da porta. E quando menos se acreditava; quando
ninguém viesse pela rua, ela escorria negra pelas veias do mundo. Passeando
cega na frente de nossos olhos. Com as mãos mudas tateando as abas de nossos
chapéus.
Depois, antes que brilhasse o dia, serpenteava de
volta para o interior da casa. Dormia em enormes teias tecidas nas quinas dos
quartos. Mal chegava a cozinha. Jejuava. Aliás, apenas se nutria fora de casa.
Predava as sombras. Quanto mais negras, mais suculentas.
Então, de volta ao interior da casa gorda, a noite
mantinha, lá dentro, tudo no escuro. Cortinas e poltronas; bules e peneiras;
vassouras e candelabros; relógios e torneiras. A escuridão tombava sobre as
coisas como uma grossa camada de poeira. Escondendo rachaduras e amassados. E
não deixando, assim, que estória alguma fosse contada a quem surgisse pela
ladeira.
Rafael Alvarenga
Resende, 11 de fevereiro de 2013
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