Pergunta de criança
Hoje pela manhã uma criança me perguntou por que
chovia. Respondi que já estava na ocasião das goiabeiras perderem as folhas da
última primavera. E que por isso caíam gotas grossas, às vezes finas e
insistentes, mas que enfim chovia. E que toda água caída do alto acontecia para
também fazer cair de outro alto as folhas da goiabeira. Contudo não de forma
que a árvore ficasse nua. Neste tempo úmido toda vida merece algo que lhe sirva
de cobertura. É que na goiabeira para cada folha envelhecida que abandonava o
fio da seiva um broto nascia. E seu verde era tão vivo que lembrava-nos o
amarelo sanguíneo das flores dos ipês.
Foi ainda na companhia dessa manhã que a chuva
cessou. Entretanto não como a perder o ânimo de viver enquanto água caindo. Cessou
a fim de reunir-se em nuvens carregadas, incapazes de tolerarem a si mesmas.
Choveria em breve, porém antes disso uma criança voltou a me perguntar: Porque
parou de chover? Respondi que era para vermos as gotas d’água nas folhas da
laranjeira. Pois penduradas em fino equilíbrio refratavam a luz do sol combatente
forçando porta entre as nuvens que se deslocavam. De cada folha pendiam pérolas.
E por esses pontos a luz multiplicada ensolarava
um instante de espaço antes do de novo da chuva.
Rafael Alvarenga
Itatiaia, 11 de setembro de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário