Carta
aos meus amigos
Preciso escrever muitas cartas aos meus poucos
amigos. Eles estão bem longe. E o tempo é traiçoeiro, pois abranda até o que é
verdadeiro. Vou dizer a eles sobre a lua avançando veloz em seu quarto
crescente. E vou perguntar quem anda esvaziando o copo que um dia fora meu. Mas
terei muito cuidado, é claro, pois não se trata de um ciúme bufão, desejo
apenas que o copo continue seu filosófico trabalho.
Nestas cartas as frases inacabadas serão frutos dos
desembaraços que não soube resolver. E a falta de lógica entre as ideias
sublinharão a profundidade de minha surdez perante o que diz o vento.
Direi também que alguns casos continuam. Aqui há
donos para todas as coisas. E eles proíbem passagens até o rio bem como ameaçam
nossos olhos quando alcançam as frutas maduras. Mas vejam só vocês, meus
amigos, eu não pretendo ameaçar e proibir, entretanto quero ser dono. Que dono
serei eu?
É melhor falar de outros assuntos. Cartas alegres
jamais são jogadas fora porque não saem das memórias. Então direi que meus
vizinhos temem assombrações. Agora, faz pouco, contavam histórias inventadas e
verdadeiras. Fiquei um tanto quanto remexido por dentro da valentia. Ora, só
sei ter medo de ladrão e revolver. E aqui trancar ou não a porta não faz lá
muita diferença.
Ah, meus amigos! Cá lugares sossegados não me
faltam para escrever. Porém agora, a todo instante, uma criança alegre me puxa
pela mão. Aponta-me o mundo. E sem dizer palavra me convida a experimentar tudo
de novo; porque está tudo novamente diferente.
Rafael Alvarenga
Pois é meu amigo Rafael, os são poucos mais sincero e a sinceridade hoje vale muito. O resto são os momentos de apreensão, de medos... mais também de alegrias e a vida vai seguindo. Forte abraco para você e família.
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