terça-feira, 1 de setembro de 2015

Carta aos meus amigos

Carta aos meus amigos

Preciso escrever muitas cartas aos meus poucos amigos. Eles estão bem longe. E o tempo é traiçoeiro, pois abranda até o que é verdadeiro. Vou dizer a eles sobre a lua avançando veloz em seu quarto crescente. E vou perguntar quem anda esvaziando o copo que um dia fora meu. Mas terei muito cuidado, é claro, pois não se trata de um ciúme bufão, desejo apenas que o copo continue seu filosófico trabalho.
Nestas cartas as frases inacabadas serão frutos dos desembaraços que não soube resolver. E a falta de lógica entre as ideias sublinharão a profundidade de minha surdez perante o que diz o vento.
Direi também que alguns casos continuam. Aqui há donos para todas as coisas. E eles proíbem passagens até o rio bem como ameaçam nossos olhos quando alcançam as frutas maduras. Mas vejam só vocês, meus amigos, eu não pretendo ameaçar e proibir, entretanto quero ser dono. Que dono serei eu?
É melhor falar de outros assuntos. Cartas alegres jamais são jogadas fora porque não saem das memórias. Então direi que meus vizinhos temem assombrações. Agora, faz pouco, contavam histórias inventadas e verdadeiras. Fiquei um tanto quanto remexido por dentro da valentia. Ora, só sei ter medo de ladrão e revolver. E aqui trancar ou não a porta não faz lá muita diferença.
Ah, meus amigos! Cá lugares sossegados não me faltam para escrever. Porém agora, a todo instante, uma criança alegre me puxa pela mão. Aponta-me o mundo. E sem dizer palavra me convida a experimentar tudo de novo; porque está tudo novamente diferente.


Rafael Alvarenga

Um comentário:

  1. Pois é meu amigo Rafael, os são poucos mais sincero e a sinceridade hoje vale muito. O resto são os momentos de apreensão, de medos... mais também de alegrias e a vida vai seguindo. Forte abraco para você e família.



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