domingo, 23 de março de 2014

Um sonho que tive

Um sonho que tive

Havia um único caminho. Mas há muita estava fora de uso. Por isso flores amarelas lhe cobriam extensamente. Vimos um rio de pétalas. E as borboletas surfando nas pororocas que o vento provocava naquele amarelo de sol.
Enfim, cri ser mau augúrio começar uma caminhada pisando em flores.
Abri os dentes do meu facão. A mata era um esqueleto vivo. Magro e forte como um maratonista. Capaz de retorce-se de alto a baixo em um circense contorcionismo. Fui penetrando com dificuldade. Caminhando sob o suor da selva peluda que me envolvia. Abraçado por infinitas árvores de braços abertos para me receber para sempre ali, porque sabiam, eu não fugiria mais, nunca mais.
Belisquei-me forte. Não acordei de sonho algum. Continuei fugindo mesmo assim.
Devia seguir para o leste. Estava com sorte. Certamente teria sorte. Não pisei em uma flor amarela sequer. Mantive no mundo um tom esparramado de beleza. Errei, entretanto. O mundo não usa valores em sua panaceia de preservação de si mesmo. O mundo se alimenta do que ele mesmo carrega sobre seu coro. Engole seus próprios piolhos.
Agora havia quantos caminhos me fossem possíveis contar. E como eu aprendi tantas coisas na escola, aprendi a contar até o infinito. Agora isso me enlouquecia.
O sol murchava. A noite escondia as flores.

Rafael Alvarenga

Resende, 21 de março de 2014

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