Carnaval
Faz muito tempo que eu vejo o carnaval. Dias clareados,
abarrotados de aleluias embriagadas. E nas noites paitês de olhos abertos
cintilando como estrelas.
Os mascarados vestem sorrisos incansáveis. E uma
moça, muito competente funcionária pública, abandonou os óculos em casa, sobre
a mais alta prateleira.
No bar da esquina da praça há muitos afazeres.
Agora mais copos e pratos servem às fomes e sedes de festejo, em razão da sexta-feira, vizinha ao carnaval,
ser tratada pelo povo como sexta-feira de carnaval. Feliz, o dono do bar diz
que o freguês tem sempre razão.
Mas assim o país não se desenvolve. Querem que o
carnaval tenha mais dias que uma semana. Disse um homem ao parapeito de sua
janela no quinto andar. Mas virou os olhos para a televisão a fim de saber a
que horas sua agremiação do coração desfilaria.
Outro rapaz detesta samba. Por isso sabe exatamente
quando começa e termina o carnaval. Sabe até quais são os piores dias. E assim
se prepara para fugir. Compra seus víveres com antecedência. Faz reservas. E
ouve qualquer outra música até se calar o último trepidante tamborim.
Aqui pela minha rua passa um pequeno carnaval nesse
instante. Um grupo miúdo, alguns de olhos dissimulados, outros com pedaços de
serpentinas enrolados no pescoço. Falam alto. E se me verem à janela viram
zombar de mim. Escondo-me!! Queria eu que o carnaval transformasse as pessoas.
Segurando minha mão a criança acredita que o mundo
mudou. O café da manhã não tem hora para acabar. E a brincadeira, lhe parece,
envenenou todo ar.
Rafael Alvarenga
Itamambuca, 03 de março de 2014
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