Sob o céu
O céu! Erguemos cabeças e olhos e não avançamos
mais que quilômetros. Para depois limitarmos a dimensão das coisas à infância
de nossa visão. Falta o que aos sentidos tão ricos e preciosos que possuímos?
A chuva pingando no rio, na calçada empoçada;
criando ondas simétricas, cujas cristas se vão engordando a cada diâmetro
engolido.
É uma benção que os pássaros já estejam de barriga
cheia. Porque a chuva acalma todos nos ninhos. As árvores ascendem a juventude
de suas pequenas folhas. A água como combustível; e de longe o que parecia o
negrume de galhos escurecidos agora anuncia mensagens florescentes.
Fico a olhar. Há uma luz prateada refletindo do
arame farpado que corre pelo muro incumbido de marcar o terreno da casa. O
arame farpado corta a mão do ladrão, a bola do menino, a beleza da serra. Mas
não tem fio suficiente para cortar a mais corpulenta gota d’água.
Pela soleira da porta atravessa um vento frio. Suas
mãos úmidas, seus olhos irritados, sua carcaça longa e pesada a ponto de
demorar pela nossa sala. As janelas estão fechadas e minha respiração não pode
sair.
À medida que escurece o céu parece baixar. Isso me
sufoca! Busco caibros de eucalipto, varas de bambu e vergalhão, preciso senão
erguer, escorar o céu para que não me caia esmagador sobre os sentidos que
tento agigantar.
Rafael Alvarenga
Resende, 05 de outubro de 2013
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