sábado, 5 de outubro de 2013

Sob o céu

Sob o céu

O céu! Erguemos cabeças e olhos e não avançamos mais que quilômetros. Para depois limitarmos a dimensão das coisas à infância de nossa visão. Falta o que aos sentidos tão ricos e preciosos que possuímos?
A chuva pingando no rio, na calçada empoçada; criando ondas simétricas, cujas cristas se vão engordando a cada diâmetro engolido.
É uma benção que os pássaros já estejam de barriga cheia. Porque a chuva acalma todos nos ninhos. As árvores ascendem a juventude de suas pequenas folhas. A água como combustível; e de longe o que parecia o negrume de galhos escurecidos agora anuncia mensagens florescentes.
Fico a olhar. Há uma luz prateada refletindo do arame farpado que corre pelo muro incumbido de marcar o terreno da casa. O arame farpado corta a mão do ladrão, a bola do menino, a beleza da serra. Mas não tem fio suficiente para cortar a mais corpulenta gota d’água.
Pela soleira da porta atravessa um vento frio. Suas mãos úmidas, seus olhos irritados, sua carcaça longa e pesada a ponto de demorar pela nossa sala. As janelas estão fechadas e minha respiração não pode sair.
À medida que escurece o céu parece baixar. Isso me sufoca! Busco caibros de eucalipto, varas de bambu e vergalhão, preciso senão erguer, escorar o céu para que não me caia esmagador sobre os sentidos que tento agigantar.

Rafael Alvarenga

Resende, 05 de outubro de 2013 

Nenhum comentário:

Postar um comentário