Tanto amor
Ele desesperado. Catando palavras para explicar o
que não havia acontecido. Palavras que, aliás, saíam quicando pela boca
gaguejante. E o rosto desfigurado. Porque esfregado pela mão nervosa. Tanto
amor, ele pensava, não poderia acabar por uma besteira qualquer.
Era verdade que agora ele duvidava desse tanto amor
dela. Ele desesperado. Telefone à mão. À espera de algum dizer. Algum alô.
Tanto era o amor. Tanto se expandira por todos os lados que agora sua casca era
fina e frágil. Iminente a rachaduras.
Ele desesperado. Afinal o que acontecera? Ela não o
aguardara como fazia sempre. E já rompera a eternidade de cinco minutos sem uma
mensagem sequer. Falando ao amigo ele tentava explicar o que não ocorrera. Mas
as palavras trocadas com ela pela manhã foram tão poucas, tão ordinárias. Não
havia motivo. Ele gaguejava: Tanto amor, não poderia acabar por uma besteira
qualquer.
Era verdade que ele agora duvidava desse tanto amor
dela. O telefone fora de área ou desligado. Prova suficiente de tudo quanto ele
não sabia. Ela se escondia. Ou se afastava?
Ele já nem gaguejava mais. Olhava além com olhos
imóveis. Sua expressão ganhando contornos penosos. E nas viradas de cabeças
para um e outro lado confirmava-se sua resignação. Embora a frase ainda ecoasse:
tanto amor, não poderia acabar por uma besteira qualquer.
Antes de caminhar, escoltado pelo amigo fiel, o
telefone anunciou a mensagem eletrônica: Passa lá em casa mais tarde.
Não sorriu, entretanto, aliviado, confessou: Eu sabia!
Tanto amor não poderia acabar por uma besteira qualquer.
Rafael Alvarenga
Resende, 03 de agosto de 2013
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