Boi preto
O boi preto vive, pasta e rumina. Enquanto isso, um
vendaval sacode a braquiária. Mas o boi preto que não se interessa por
vendavais; por isso vive, pasta e rumina. Tudo se move ao seu redor. O mundo se
move sem reclamar por ponto fixo. As pessoas se movem em direção as janelas
para trancá-las reclamando do buraco do trinco.
Todo verde sacode como se corresse; como se fosse
dotado de pernas. O boi preto é o único que permanece. Um ponto robusto que vive,
pasta e rumina. Quanto capim lhe é necessário. Quanto viver, pastar e ruminar!
O vento força portões. Quer entrar na marra. O vento assedia roupas íntimas nos
varais. Quer saciar sua volúpia. O vento verga os braços do maracujazeiro que
se enruga de dor. Quer que o respeitem em meio à bárbara natureza.
Mas o boi preto que não se interessa por vendavais vive,
pasta e rumina. E quando se põe a caminhar é por um motivo que eu não vejo. Eu
só vejo o vento me apequenar a visão de tantos ciscos que me lacrimejam; só
vejo o vento engrandecer o boi preto que vive, pasta e rumina.
Rafael Alvarenga
Itatiaia, 06 de outubro de 2015
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