domingo, 8 de fevereiro de 2015

Sob o arco-íris

Sob o arco-íris

Os olhares já se haviam derramado. E, portanto, seguiam embarreiráveis e constantes, como a água quando escorre pelo chão.
Mas aqueles eram olhares leves. Talvez porque tivessem o peso do brilho.
Eles sequer precisavam pensar em se entreolhar. Pois os olhos se encontravam da mesma forma que o imã localiza o metal. E assim, como algo que não pode mais ser desfeito ou ignorado, souberam haver ali uma paixão.
Durante muitos dias e noites, podemos até pensar em semanas, mantiveram um silêncio honesto. Nenhum ouvido soube daquele sentimento. Porque jamais era falado, apenas visto.
Mas um dia, como se fosse qualquer dia, começou a chover. E aquilo foi os amarrando. E depois os esquecendo. De modo que em algum momento sobrassem apenas ela e ele. Nesse dia se falaram mais, mas falaram as mesmas coisas de sempre. Salvava-os do tremor que quase lhes rachava os ossos esquálidos, o sorriso a queimar o rosto como benigna febre terçã.
A água não dava trégua. Estavam encurralados e não havia mais como recuar. Não havia mais defesa que se erguesse firme, hora que se atrasasse, ônibus que passasse, trabalho a fazer. E para arrebatar de vez aqueles corações, não havia outro lugar para se olhar a não ser os olhos do outro, já que a chuva embasava o mundo inteiro.
E para que tudo terminasse feliz, como o fim que as ficções se dão como de direito, ela disse que saíssem à chuva para ver o arco-íris. Ele olhou para o tempo. Não viu cor. Mas acreditou que ela soubesse das coisas. Soubesse da hora fantástica das paixões e dos arco-íris.

Rafael Alvarenga
Itatiaia, 06 de fevereiro de 2015



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