Sob
o arco-íris
Os olhares já se haviam derramado. E, portanto,
seguiam embarreiráveis e constantes, como a água quando escorre pelo chão.
Mas aqueles eram olhares leves. Talvez porque tivessem
o peso do brilho.
Eles sequer precisavam pensar em se entreolhar.
Pois os olhos se encontravam da mesma forma que o imã localiza o metal. E
assim, como algo que não pode mais ser desfeito ou ignorado, souberam haver ali
uma paixão.
Durante muitos dias e noites, podemos até pensar em
semanas, mantiveram um silêncio honesto. Nenhum ouvido soube daquele
sentimento. Porque jamais era falado, apenas visto.
Mas um dia, como se fosse qualquer dia, começou a
chover. E aquilo foi os amarrando. E depois os esquecendo. De modo que em algum
momento sobrassem apenas ela e ele. Nesse dia se falaram mais, mas falaram as
mesmas coisas de sempre. Salvava-os do tremor que quase lhes rachava os ossos
esquálidos, o sorriso a queimar o rosto como benigna febre terçã.
A água não dava trégua. Estavam encurralados e não
havia mais como recuar. Não havia mais defesa que se erguesse firme, hora que
se atrasasse, ônibus que passasse, trabalho a fazer. E para arrebatar de vez
aqueles corações, não havia outro lugar para se olhar a não ser os olhos do
outro, já que a chuva embasava o mundo inteiro.
E para que tudo terminasse feliz, como o fim que as
ficções se dão como de direito, ela disse que saíssem à chuva para ver o arco-íris.
Ele olhou para o tempo. Não viu cor. Mas acreditou que ela soubesse das coisas.
Soubesse da hora fantástica das paixões e dos arco-íris.
Rafael Alvarenga
Itatiaia, 06 de fevereiro de 2015
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