Enfim, o fim
Foi em um ligeiro instante. Uma frase curta saída
com algumas sílabas bem entonadas. Mas ele se sentiu mal logo após. A estupidez
não lhe era inquilina sequer das pontas dos dedos. Mas lhe batera na porta da
língua naquela tarde, durante aquele desentendimento. E ele a deixou entrar e
beber de sua saliva e comer de seus pensamentos, por mais que estivessem frios
e salgados. Quando saiu pela mesma boca, correu nua e ingrata arrotando
grosserias azedas.
Ela chorou. Talvez de alívio. Ele se escondeu. A
briga silenciou a barriga que antes alertava sobre a fome. A briga silenciou a
boca também. A tempestuosa desavença afugentara a fome que certamente se
escondera no fundo curvo e turvo do intestino.
Tinham terminado tudo. Teve certeza. Não recomeçariam.
Era o apito final. O choro durou mais um tanto, entretanto foi respirando e os
olhos começaram a ver e o coração bateu como batia antes que se conhecessem.
Talvez a raiva e o desagrado tenham a força dos
seus opostos. Não nos separamos antes, ele pensou, porque ainda havia entre nós
a força de não nos suportarmos mais. Aliás, uma força de quilate robusto. Acho
que hoje não. Porque deixamos até de nos enraivecer um com o outro. Agora sim,
podemos nos separar com o sentimento colhido.
- Já chega, não é? - Ela perguntou e ele respondeu
com sobriedade. Estavam juntos porque lhes desagradava o outro. Como pode? Perguntaram-se.
Mas não responderam embora compreendessem que muitos são os sentimentos que
unem as pessoas. Até mesmo a raiva.
Rafael Alvarenga
Itatiaia, 12 de fevereiro de 2015
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