Coisas de uma tarde
A tarde triste nos beiços de um trompete
escandaloso nada tem de dourada. Embora sugira a cor de um metal frio o sol
ainda explode. Anunciam-se nuvens por trás do solar em cima do morro. Nessa
hora as escolas libertam crianças furiosas vestidas com feios uniformes pobres
e cinzentos como as roupas amarrotadas dos homens que voltam dos velórios.
Eu queria uma forma estética para escrever de tudo
nessa vida. Mas essa vida é muito rebelde. E tem tantos jeitos que até parece
que é de qualquer jeito que se escreve.
E eu em agonia. Se ela não vem minha tarde sobra. É
tanto tempo amontoado sobre espaço conjugado. Há pouco acendi um charuto.
Estava na caixa fazia muito tempo. Por gentileza um amigo me presenteara. E até
agora não soubera o que fazer com esse charuto. Fiz dele algo que somente me
desagradasse com seu intenso tabaco concentrado em folhas longas. O tempo que
levei buscando retirar esse sabor da carne mole de minha boca me fez esquecer
um pouco que ela não vinha. O gosto ruim desse tabaco queimado me tirou a tristeza
da tarde.
Mas não houve muito jeito. A tarde se desfazia
ainda mais. E um azul fino entrava pela memória saudando saudades.
Começaram a tocar um piano. E as notas, como olhos
piscando lágrimas, trouxeram a noite. Tudo recomeçava. O sol estava enfim enterrado.
A noite era tempo de qualquer estrela.
Rafael Alvarenga
Resende, 23 de fevereiro de 2014
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