Quando ele voltou
para casa
Chegou a casa sorrindo. Abriu os braços das janelas
quando abria seus braços e se abraçaram sem aperto. Passou as mãos pela pele
das paredes numa espécie de afago a um ente querido. Não demorou e também olhou
nos olhos remelentos do espelho que acordava agora depois de longo sono semanal.
Enquanto caminhava pelos cômodos galanteando cada quina desnudava o corpo da
casa abrindo as cortinas franjadas. Acendeu as luzes junto com a luz do dia. E
encontrou moedas e bilhetes. O calendário envelhecido marcado na parede dobrava
seu papel sobre si mesmo se fechando como a concha de um molusco.
Uma prateleira ofereceu de bandeja, alguma garrafa.
Aceitou de pronto! Bebeu com a casa toda um gole farto brindando boas-vindas!
Estavam juntos novamente. E como se conheciam bem! Afinal, dividia com ela suas
mais incomodadas opiniões. Compartilhava inclusive a intimidade de sua tão reservada
nudez. Com ela ria e reclamava dos defeitos do mundo. Com ela esperava a tarde
cair e a chuva estiar. Sempre fazendo comentários.
Toda aberta a casa respirou profundamente. Ele
ainda estava sorrindo. Cultivando um sentimento contente e amplo de quem tinha saudade. E apesar da pressa em
arrumar tudo sentou um pouco numa cadeira. Ouviu a voz da casa sussurrando agudo
pelo corredor. O paladar da última refeição veio da boca da cozinha. Soube que
o sonho do último sono ainda morava ali.
A casa tinha algo que era dele. Circulando nela
como sangue. Talvez ela mostrasse quem ele era de um jeito que não o
incomodasse. De um jeito caseiro.
Rafael Alvarenga
Resende, 08 de janeiro de 2014
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