Terça-feira de verão
Ela esperou que todo inverno passasse. E nomeou bem
uma terça-feira de verão. Era uma noite já iniciada. Mas o calor queimante
quase iluminava, quase criava dia sem ofender as estrelas. Eu sabia que ela
viria. Aguardei despreocupadamente. Caminhando pelo apartamento como quem
caminha em busca de uma brisa.
Tocou a campainha. Ela não ouviu meus passos.
Capturei-lhe o corpo todo dentro da forma bojuda do olho mágico. Vinha
escondendo apenas o que cismamos não poder mostrar. Imaginei o calor de sua
pele e o cheiro natural que lhe caldeirava
a nuca.
Ao meu beijo sua boca esteve fria. Amarrada.
Quadrada. Sem curva alguma. Perguntei se estava tudo bem. Ela respondeu não,
mas que ficaria melhor. Refez o nó dos cabelos. Sentou a bolsa sobre minha
mesa. Meus olhos desarmaram-se abandonados e frágeis.
Ela disse não podermos mais. Eu olhei pela janela e
na rua alguém passava rindo alto. Como aquilo me penetrou diabolicamente. Ela
no sofá com um short que só escondia o que cismamos não poder mostrar. Pensei em
ir nadar. O motivo, segundo ela, era ela mesma. Eu estava isento de qualquer
conta, culpa ou benefício. Senti-me torto como o armário que acaba de perder o
calço que tanto lhe aprumava as quinas.
Ela se foi com a boca fria. Amarrada. Quadrada. Sem
curva alguma. Sai à rua. Era ainda terça-feira de verão. Escondiam-se apenas o
que cismamos não poder mostrar.
Ainda bem, ela esperou que todo inverno passasse.
Rafael Alvarenga
Resende, 12 de dezembro de 2013
Sempre no verão...me fez lembrar do filme Verão de 42 hahahaha.
ResponderExcluirforte abraço
c@urosa
Muito bom meu velho amigo.
ResponderExcluirGrande abraço!!