O
futebol voltou no Brasil. E isso foi tão difícil de compreender quanto o dia em
que ele, e outras tantas atividades, precisaram parar. O COVID-19 parecia um
inimigo que não alcançaria essa terra abençoada por deus. Mas foi, justamente
por acreditarmos em “mitos”, que quando a pandemia chegou encontrou aqui,
presas fáceis, como mostram agora as estatísticas.
Flamengo
X Bangu jogaram ontem em um Maracanã impossível. Ao lado de um hospital de
campanha lotado de doentes em estado grave. A FERJ prometeu atender a todos os
protocolos e instalou túnel de desinfecção, fez testes rápidos para COVID-19, medição
de temperatura e manteve as arquibancadas vazias e os atletas impossibilitados
de se abraçar para comemorar os três gols na vitória do Flamengo.
Antes,
a diretoria rubro-negra procurou o presidente do Brasil pedindo apoio,
inclusive na briga contra a Globo (que de santa nada tem). O clube conseguiu uma
MP e com o aval da FERJ foi a campo em busca da mensagem absurda de que “dá
para fazer desde que se tenha cuidado”. Contudo, os clubes pequenos em estádios
simples do interior irão receber a mesma atenção da FERJ, no que diz respeito
aos protocolos sanitários? Essa resposta começa a ser dada hoje com Portuguesa
X Boa Vista às 15:30 na Ilha do Governador.
Por
outro lado, não podemos deixar de denunciar o oportunismo. Tanto dos dirigentes
do Flamengo, que não são o Flamengo, quanto do presidente do Brasil e também de
outros políticos e dirigentes que alimentam a crítica social com a rivalidade
futebolística irracional: “O Botafogo não queima meninos”, disse Carlos Augusto
Montenegro.
Sou
contra a volta do futebol. Mas não confundo um dirigente com uma instituição.
Caso contrário, a Europa deveria ter extinguido a existência do Estado alemão dirigido
de forma horripilenta pelo insano Adolf Hitler no século passado.
Eu
quero o futebol. Mas em um momento em que possamos voltar a nos abraçar em
comemorações de gol. Em um momento em que o jogador possa voltar a beijar a
bola.
Rafael Alvarenga
Cabo Frio, 19 de junho de 2020