sexta-feira, 19 de junho de 2020

Sem abraço e beijo na bola! Que futebol é esse?




          O futebol voltou no Brasil. E isso foi tão difícil de compreender quanto o dia em que ele, e outras tantas atividades, precisaram parar. O COVID-19 parecia um inimigo que não alcançaria essa terra abençoada por deus. Mas foi, justamente por acreditarmos em “mitos”, que quando a pandemia chegou encontrou aqui, presas fáceis, como mostram agora as estatísticas.

            Flamengo X Bangu jogaram ontem em um Maracanã impossível. Ao lado de um hospital de campanha lotado de doentes em estado grave. A FERJ prometeu atender a todos os protocolos e instalou túnel de desinfecção, fez testes rápidos para COVID-19, medição de temperatura e manteve as arquibancadas vazias e os atletas impossibilitados de se abraçar para comemorar os três gols na vitória do Flamengo.
            Antes, a diretoria rubro-negra procurou o presidente do Brasil pedindo apoio, inclusive na briga contra a Globo (que de santa nada tem). O clube conseguiu uma MP e com o aval da FERJ foi a campo em busca da mensagem absurda de que “dá para fazer desde que se tenha cuidado”. Contudo, os clubes pequenos em estádios simples do interior irão receber a mesma atenção da FERJ, no que diz respeito aos protocolos sanitários? Essa resposta começa a ser dada hoje com Portuguesa X Boa Vista às 15:30 na Ilha do Governador.
            Por outro lado, não podemos deixar de denunciar o oportunismo. Tanto dos dirigentes do Flamengo, que não são o Flamengo, quanto do presidente do Brasil e também de outros políticos e dirigentes que alimentam a crítica social com a rivalidade futebolística irracional: “O Botafogo não queima meninos”, disse Carlos Augusto Montenegro.
            Sou contra a volta do futebol. Mas não confundo um dirigente com uma instituição. Caso contrário, a Europa deveria ter extinguido a existência do Estado alemão dirigido de forma horripilenta pelo insano Adolf Hitler no século passado.
            Eu quero o futebol. Mas em um momento em que possamos voltar a nos abraçar em comemorações de gol. Em um momento em que o jogador possa voltar a beijar a bola.

Rafael Alvarenga
Cabo Frio, 19 de junho de 2020

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