segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Chuva pra gato


Chuva pra gato

Depois que o vento parou a chuva ficou muito a vontade e caiu. E foi por essa hora que eu vi o gato. Primeiro me intrigou sua disposição no meio da tarde. Depois seu desdém quanto à chuva que lhe intanguia o pelo.
Sobre o muro fino de tijolos apenas chapiscados por um cimento áspero, ele seguia uma marcha lenta. Cuidando para não fazer barulho. Olhando para um e outro lado. Procurando? Realmente aquilo me intrigou. Não sabia que os gatos também caçavam no meio da tarde. Fosse eu um especialista em economia e escreveria um artigo afirmando que a crise é tanta que até os gatos agora caçam no meio da tarde.
Tive uma namorada que dizia, insistentemente, que os gatos eram animais limpíssimos. Nunca soube se com aquilo ela queria me dizer alguma coisa em particular. Sei que ela possuía dois e quando um deles fugiu voltando da rua no dia seguinte imundo, machucado e humilhado eu tive que procurar uma desculpa para sair e rir em voz muito alta.
Mas voltemos ao gato que anda por aqui e agora. Está com o pelo completamente ensopado e não possui a habilidade dos cães de se remexer com força e jogar fora o excesso da água. Não sei o que quer esse gato se arriscando tantas léguas para além de sua própria natureza.
Talvez tenha insônia. Isso é o que dá ser domesticado por nós.

Rafael Alvarenga
Cabo Frio, 17 de setembro de 2018

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