sexta-feira, 12 de junho de 2015

Hoje eu não poderei lhe emprestar

Hoje eu não poderei lhe emprestar

Hoje eu não poderei lhe emprestar meus pés. É que preciso andar e chegar em algum lugar onde possa descansar depois. Também não poderei lhe emprestar minhas mãos. Pois preciso dá-la a uma criança ao atravessar a rua. E hoje eu também não lhe poderei emprestar meus olhos. É que a tarde é de outono e o céu está limpinho. Muitas cores serão derramadas e isso não demora. Por favor, não me leve a mal, mas não poderei lhe emprestar mesmo.
Hoje eu não poderei lhe emprestar meus cabelos. Eles estão compridos e avessos, eu sei, mas é que pegarei uma carona na carroceria aberta de uma caminhonete e o vento, por mais furioso que seja, não tem graça nenhuma em uma careca.
Ah, e não é que eu seja egoísta, porém hoje eu também não poderei lhe emprestar minha língua. Porque eu vou sair e jantar com uma mulher incrível. E haverá a massa e a conversa. Não posso ficar insosso e mudo. Eu sinto muito, mas hoje eu não poderei lhe emprestar meus ouvidos. Pois eu estou precisando ouvir umas verdades. E por isso estou com eles aqui, bem abertos voltados para os alto falantes do mundo.
Hoje eu não poderei lhe emprestar minha felicidade. Porque eu estou ansioso para usá-la. É isso mesmo. De sair por aí cantando alto e sem nenhuma preocupação com o momento tedioso de voltar.
Não me leve a mal, mas é que hoje, sequer dinheiro eu poderei lhe emprestar.

Rafael Alvarenga

Itatiaia, 12 de junho de 2015

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