O nome da crônica
Chamou-me a atenção a posição do sol. Faz já um
andado período que ele nasce à direita da janela do meu sonho.
Chamou-me a atenção os bandos populosos de
andorinhas. Não sei de onde elas vêm. Vejo pousarem silenciosamente seu cansaço
nas quatro camadas de fios elétricos da rede que perpassa toda altura da rua.
Não posso contar quantas são. Algumas me encaram despretensiosamente outras me
dão as costas. Todas descansam e em seguida desaparecem dentro das asas batidas.
Chamou-me a atenção o maracujazeiro. Vegetal
estendido em forma de braços abertos e maternais. Parece uma estátua sagrada
abençoando a terra. Além disso, entregam ao mundo flores aéreas. De um lilás
metafísico pingado do por do sol. Essas flores estão prontas a alçar voo. Em
torno delas há muitas hélices que, se acionadas, levariam o mundo inteiro para
um passeio galáctico. Ou são essas hélices que seguram o mundo? Estáticas em
pleno voo como apenas o beija flor é capaz de fazer.
Chamou-me a atenção o seu humor. E as linhas tortas
que suas reações são capazes de retroescavar em sua face. Também o seu sorriso
me inquieta, ora porque nenhuma graça você encontrou em mim.
Chamou-me a atenção a palavra faltosa em alguma
frase. Porque sem ela sobrariam os olhos e os sinais. Os projetos e as
construções. Sobrariam tantas coisas. Mas a todas elas faltaria uma única
palavra que fosse: seu nome.
Rafael Alvarenga
Itatiaia, 14 de fevereiro de 2015