sábado, 20 de julho de 2019

O vôo do Goytacaz F. C.




Nessa fria tarde de sábado ninguém entendia o que acontecia nas ruas. Olhavam por frestas de janelas, buracos de fechaduras, câmeras de segurança. Gente e mais gente enfrentando o vento cortante que rugia pela rua do gás. Eram os torcedores do Goytacaz em direção ao estádio Ary de Oliveira e Souza, o Aryzão.
O jogo contra o Nova Cidade acabou empatado em 1 X 1. O Goytão perdeu a chance de ficar em primeiro no grupo A, mas se classificou para as semifinais da Taça Santos Dumont que ficaram assim desenhadas: Bonsucesso X Goytacaz e América X Campos A. A.
Logo aos 4 minutos do 1º tempo, Alessandro abriu o placar para o Goytacaz que continuou pressionando, criou boas chances, porém não conseguiu ampliar o marcador. Na segunda etapa foi o Nova Cidade quem mais arriscou. A equipe, que briga na parte de baixo da tabela, passou a dominar as ações e no finalzinho do jogo foi coroada com um pênalti bem convertido.
O gol foi uma lambada de vento frio na torcida alvi-anil que ainda assim permaneceu até o último minuto apoiando a equipe. Não veio a vitória, entretanto foi dado o primeiro passo para o tão sonhado retorno à elite do futebol carioca.
Desde o ano passado o Goytacaz demonstra bom começo de jogos e competição. Mas na reta final sempre tem derrapado. Cansaço? Desatenção? Nervosismo? É hora de avaliar, porque agora os jogos serão eliminatórios.
Quando os torcedores saíram do Aryzão e o azul mais bonito do futebol mundial encarou com coragem o vento frio não houve quem não entendesse e não apreciasse a paixão do povo pelo Goytacaz!

Rafael Alvarenga
Cabo Frio, 20 de julho de 2019

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Motivo para recriar-se




A grande árvore velha foi a primeira a avisar. Como aquela avó de tempos imemoriais pôs lençóis sobre os espelhos e camisas nos moleques. O vento vinha de longe, mas seu focinho frio já se encostava às células das coisas. A palmeira solitária e franzina usou a inclinação como estratégia. As folhas compridas apontando na mesma direção, mostrando que era por ali o caminho. Quem sabe assim o vento iria embora?
As nuvens e a chuva não tiveram força para permanecer ancoradas nessa parte do céu. Foram expulsas não sei para onde e delas ficou apenas o frio de fazer formigar mãos e pés. Na água um fenômeno extraordinário que, graças a deus não era visto pelos fanáticos da fé religiosa: do líquido subia um éter, um ectoplasma, um espírito da natureza, uma transmigração. Era o frio enquanto força volátil se separando da água, vindo à procura de corpos mais densos onde pudesse se proteger. O que não tinha nada de religioso, embora fosse divino. O que não tinha nada de puro, embora fosse magnífico.
Então o frio encasulou as pessoas. Dentro de casa, dentro das garrafas, dentro do sono, dentro si mesmas. Era a chance de praticarem uma metamorfose psíquica. Lembrar, olhar e falar dos medos, dos desejos, das inseguranças, dos novos planos, do momento que é sempre novo, se for posto acima da vida ordinária.
Olhando para a grande árvore, avó da terra, anunciadora do frio, penso em como temos oportunidades de mudar. Se houver vontade basta um vento, um inverno, um casulo. Recriar-se a si mesmo é a lei da nossa natureza! Ainda bem que você, eu e as borboletas já sabemos disso.

Rafael Alvarenga
Cabo Frio, 08 de julho de 2019